O termo probiótico deve ser empregado para bactérias não patogênicas que, quando consumidas em quantidades adequadas, são capazes de sobreviver à passagem pelo trato gastrintestinal e estarem metabolicamente ativas exercendo efeitos benéficos para o hospedeiro (1,2). Assim, o termo probiótico faz referência a bactérias com benefícios ao organismo. No entanto, as bactérias probióticas possuem efeitos benéficos distintos, principalmente de acordo com o gênero, espécie e subspécie (cepa) aos quais pertencem.
Os probióticos têm sido utilizados há mais de 100 anos no manuseio de diversas desordens orgânicas. O avanço na compreensão da flora intestinal e sua relação com o hospedeiro, juntamente com progressos em microbiologia, biologia molecular e pesquisas clínicas, conseguiram identificar importantes propriedades biológicas dos probióticos. Assim, o uso de probióticos em algumas condições clínicas, principalmente relacionadas ao trato gastrintestinal, pode constituir importante ferramenta terapêutica.
As gastroenterites são importantes causas de morbi-mortalidade em todo o mundo, principalmente em crianças menores de cinco anos. Em 2004, ocorreram no Brasil 121.521 hospitalizações e 2.321 óbitos por diarréia, sintoma da gastroenterite, entre crianças nesta faixa etária. Em 2005, mais de 28 mil crianças de zero a cinco anos foram internadas no Sistema Único de Saúde (SUS) somente devido a esta patologia, gerando custos altamente dispendiosos (1).
O consumo de probióticos pode ser um importante aliado no combate à diarréia. A intensidade e a duração de episódios diarréicos são diminuídas na população infantil com a ingestão regular de probióticos. Na diarréia associada ao uso de antibióticos, o consumo de probióticos reduz em aproximadamente 60% a diarréia, conforme mostrado em duas metanálises (2,3). Em comparação, a ocorrência de diarréia ocasionada pelo Clostridium difficile, é significativamente menor no grupo que consome probióticos (34,6%) do que no grupo controle (65%) (4).
Outra recente metanálise publicada no Lancet Infectious Diseases conclui que existem evidências suficientes do papel dos probióticos na prevenção da diarréia aguda em crianças e adultos e da diarréia associada ao uso de antibióticos (5).
Vale a pena ressaltar também, dentre outras afecções digestivas, a síndrome do cólon irritável (SCI), uma doença funcional do trato gastrintestinal que exibe alta prevalência mundial e complexo manuseio clínico. De etiologia multifatorial, a SCI é responsável por cerca de 20 a 50% das visitas ao gastroenterologista, demandando altos custos ao SUS, tanto de pessoal quanto de exames diagnósticos (6,7). Em geral, pacientes com SCI são 52% mais caros que pacientes controles sem a SCI (8).
Estudos apontam que os probióticos podem atuar na SCI com melhora geral dos sintomas, principalmente em relação à distensão e dor abdominal, além de maior estabilização da microbiota intestinal. Desta maneira, o consumo regular de alimentos com probióticos é efetivo e seguro para aliviar os sintomas de pacientes com SCI (9,10).
Além das afecções gastrintestinais, os probióticos podem ter importante papel na saúde pública ao atuarem de maneira benéfica e promissora em doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como doenças cardiovasculares e câncer.
Novos estudos creditam aos probióticos e aos laticínios acrescidos de probióticos diversos benefícios sobre fatores associados às DCNTs, como aumento da resposta imune pela elevação na produção de imunoglobulina A; diminuição da população de patógenos por meio da produção de ácido acético, ácido lático e bacteriocinas; supressão de enzimas microbianas potencialmente prejudiciais, associadas ao câncer de cólon em animais; redução da proliferação de células cancerígenas e redução do colesterol sangüíneo (11,12).
Desta maneira, podemos concluir que os estudos sobre o uso de probióticos são muito promissores, principalmente relacionados ao trato gastrintestinal.
Etiquetas:gastroenterites, lactobacilus, probioticos, resposta imunológica, síndrome do cólon irritável
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